sexta-feira, 27 de abril de 2012

A percepção da cegueira

31/03/2012- Sorocaba/SP. Um cego e um guia. De um ponto (XV de Novembro) para outro (UNISO-Trujillo).

O guia -
Calçada, rua, chão, asfalto... Cada milimetro quadrado, cada intensidade do ar que dançava a sinfonia das ruas. Cada pessoa que circulava, cada olhar indiferente ou falsamente indiferente. Cada desejo de se anular diante do deficiente. Cada cheiro de bueiro, cada cheiro de fumaça, cada degrau, cada rampa, cada falha na calçada. Cada sombra, cada raio de sol e cada pedaço dessa terra rasgada. Tudo me pertence, tudo nos pertence, e tudo nos engole, e tudo é puramente nada. Não sou o homem que guia, eu sou a própria guia.

O cego -
Estou cega. Como posso caminhar?
Passo a passo, guiada por um compasso, escrevo meus caminhos nesse papel. Fantasmas dos sentidos me enlouquecem; vozes e odores, espessuras e comunicação guia.
Pouco a pouco, guiada por um compasso, percebo meus caminhos nesse papel. Diversas sensações me enobrecem; percepções aguçadas de uma vida vislumbrada.
Braço a braço, guiada por um compasso, entendo meus caminhos nesse papel.
Estou cega. Caminho.
(local aonde a ação foi registrada)

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