sexta-feira, 1 de junho de 2012

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No fluxo da repressão; impressões

                                        
Assim como do fundo da música
brota uma nota
que enquanto vibra cresce e se adelgaça
até que noutra música emudece,
brota do fundo do silêncio
outro silêncio, aguda torre, espada,
e sobe e cresce e nos suspende
e enquanto sobe caem
recordações, esperanças,
as pequenas mentiras e as grandes,
e queremos gritar e na garganta
o grito se desvanece:
desembocamos no silêncio
onde os silêncios emudecem.

Octavio Paz
                                      

Quando leite era imagem e alimento

O que é crescimento? Indiferente de todos os mitos da humanidade injusta, crua e indefinida, é nada mais que a assustadora necessidade de uma surra materna, uma brincadeira de cócegas feita por um pai ou o escutar de um choramingo profundamente melancólico daquela que já viveu tudo o que tinha para viver, mas ainda assim permaneceu vivendo/choramingando por um bom tempo (talvez só para deixar essa cicatriz adoravelmente necessária). Vontade tremenda de voltar no tempo... Ou até mesmo de nunca existir.



O jogo teatral e a arte: Uma linguagem performática (em breve)


RESUMO



Esta pesquisa tem como propósito gerar um questionamento do que é Performance e qual seria sua verdadeira significação perante a Arte num todo, mas com foco no Jogo Teatral e conseqüentemente na linguagem do Teatro. Surge da analise de materiais teóricos sobre Performance e Teatro e de vivências geradoras desse entendimento, principalmente do processo da encenação de “Alegorias Pantagruélicas” acompanhado pela pesquisadora e encenadora professora Dra. Ingrid D. Koudela e sua filha pesquisadora e encenadora professora Maia Koudela na Universidade de Sorocaba (UNISO).



PALAVRAS CHAVES

Arte; Performance; Teatro; Jogo Teatral.

Primeiro a coragem

Uma analise trágica [tbm da vida]


Introdução



         Estamos todos buscando as mesmas verdades em cima do que é o Trágico; procuramos entender suas características essenciais com bases teóricas diversas para que uma visualização prática seja possível. Muito já foi escrito sobre a tragédia, desde Aristóteles em sua arte poética, passando por Nietzsche, Schopenhauer, Szondi, Suassuna e muitos outros pesquisadores que até hoje buscam uma melhor compreensão dessa denominação estética.

            Escrevo esta introdução depois de um imenso complexo encontrado em discussões estéticas dentro e fora da sala de aula, complexo o qual precisei abrir mão para conseguir analisar ao menos uma dramaturgia trágica. Assim disposta, pretendo expor minha analise da obra Coéforas (Ésquilo) em cima de uma divisão enxuta, mas viável, das características essenciais na existência de uma tragédia.

            A peça, escrita na idade heróica da Grécia (cerca de 1200 a.c.), será analisada enfim a partir dos aspectos destacados por Ariano Suassuna em seu livro “Introdução à Estética” (1977), os quais têm como principio a visão aristotélica do Trágico. Os aspectos determinantes para a caracterização da tragédia, para ele, são: Ação de caráter elevado, linguagem ornamentada, personagens grandiosos, decisões que geram conflitos, desenlace trágico e espírito sublimado por terror e piedade.



         Orestes, filho de Agamenôn com Clitmnestra e irmão de Electra, depois de falar com o oráculo de Lóxias está em busca de vingança pela morte de seu pai. Em seu tumulo deixa uma mecha de cabelo quando encontra Electra e o coro (escravas troianas) com libações vindas de Clitmnestra a partir de um sonho para o falecido. Orestes decifra o sonho, conta sua vingança para Electra e vai até o castelo como sendo um mensageiro que informa a Clitmnestra sua própria morte. Ela o recebe como hóspede, pede para chamarem seu marido Egisto que a sós com Orestes é morto. Clitmnestra implora por sua vida e informa a perseguição das Erínias para Orestes, que a mata mesmo assim e depois de explicar suas ações sai sendo perseguido pelas Erínias. 

           
Coéforas: Uma analise Trágica
1 Ação



            Como uma das características trágica, “a ação de caráter elevado é uma ação não comum na qual esteja necessariamente implicado um principio de ordem superior” (SUASSUNA, p.125, 1977). Essa é a ação norteadora na peça trágica. Em Coéforas a ação que impulsiona Orestes em busca de vingança vem de um caráter elevado advindo do oráculo de Lóxias.



                       (...) se não vingasse um dia a morte de meu pai

punindo os homicidas; o deus ordenou

que eu os exterminasse em retaliação,

enfurecido pela perda de meus bens.

Se eu não obedecesse, disse ainda o deus,

teria de pagar um dia a minha divida

com a própria vida entre terríveis sofrimentos.

Assim o oráculo, mostrando aos homens todos

a ira dos poderes infernais malignos,

ameaçou-me com pragas nauseabundas (...)

                                   (COÉFORAS, p.14)    



            Como primeira analise prevalece essa visão de uma ação de caráter elevado, mas se observada a fundo pode-se entender a atitude vingativa de Orestes como uma ação elevada, pois além de ser advinda de um oráculo é uma vontade/necessidade de enfrentar seu destino que o impulsiona a essa ação condutora de toda a trama da peça; ao meu entendimento.





2 Linguagem



            Para uma peça ser considerada trágica também estabelecesse uma determinada linguagem característica. Nesta linguagem observamos um caráter poético, não em versos, mas ornamentado de imagens e metáforas. Um espetáculo teatral possui sua linguagem própria, como sabemos, e um espetáculo teatral trágico tem essa mesma linguagem com uma característica particular: a ornamentação.

            Em Coéforas as falas de todas as personagens são carregadas de visualizações enquanto ouvimo-las ou lemos. Apenas para citar um exemplo, quem não sente a poética das imagens dos males funestos produzidos pela terra, astros flamejantes e/ou a fúria dos ventos velozes neste trecho do coro:



                                   São incontáveis os males funestos

e as feras produzidas pela terra

e os monstros perigosos para os homens

soltos nos mares; entre o céu e a terra

fulguram muitos astros flamejantes;

tudo que marcha e tudo que alça vôo

fala da fúria dos ventos velozes. (...)

                                                           (COÉFORAS, p.25-26)



            É com essa linguagem ornamentada que toda a peça segue, transmitindo total visualização das frases sempre metafóricas, fundamentando-a mais uma vez como sendo uma tragédia.



3 Personagem



            Em Orestes, podemos observar o aspecto de grandiosidade à medida que sabemos de seu transtorno com o falecimento do pai e de toda ação concretizada ora por ele mesmo demonstrando seus sentimentos, ora por Electra com seu pesar melancólico pós-falecimento do pai. Até mesmo por todas as outras ações de todos as outras personagens que impulsionam o protagonista as suas ações de caráter elevado, transformando-o num “herói trágico”.

            Em suma essa é a personagem trágica, um herói com uma alma grande que demonstra todo seu caráter através de suas ações elevadas. Orestes vai atrás do que sua consciência procura, ainda que apoiado num oráculo e sabendo de todo risco que o cerca. Além de toda essa trajetória, ele consegue o que quer paralelamente trazendo boas conseqüências aos demais personagens e, principalmente, ficando por fim com seu destino penoso.      

           

4 Decisões e conflitos



                  Hermes das profundezas infernais, que velas

pelo poder paterno, vem juntar-te a mim,

vem logo e salva-me como aliado nosso,

a quem elevo nesta hora minhas preces! (...)

                                   (COEFORAS, p.3)



            Já no principio da peça observamos que Orestes é tomado por uma decisão, e que essa decisão possui uma vontade que vem carregada por um dilema: A vingança pela morte do pai. Ainda mais adiante percebemos que essa decisão tem o propósito de repelir algo para que outro algo seja conquistado:



Ah! Minha mãe despudorada e má!

Ousaste sepultar um grande rei

secretamente (ah! funerais cruéis!),

sem o pranto sentido de seu povo,

sem uma simples lágrima de pena!

                                   (COEFORAS, p.18-19)



         Orestes é possuidor da vontade da vingança, e sabe que precisa matar sua mãe e seu padrasto para alcançar essa vingança. Essa é a sua decisão e esses são os seus conflitos (internos e externos).  



5 Desenlace



            Coéforas termina com a perseguição das Erínias por Orestes. Este sabia que seria perseguido e ainda por cima consumado de culpa (como vimos no tópico anterior a partir de suas decisões e conflitos). “Não podes vê-las, mas as vejo perseguindo-me e não tenho o direito de ficar aqui!” (COEFORAS, p.43).

            Enfim, é exatamente o que lhe sucede: o infortúnio. Esse infortúnio, que deve ser sempre o desenlace de uma tragédia, não precisa necessariamente ser o aniquilamento (morte) da personagem, mas um mau que lhe cai provocado por todas as suas ações realizadas.









6 Terror e Piedade



         Confesso que o terror e piedade foi o tópico que mais me deu trabalho de compreensão desde o começo das aulas até chegar a avaliação, a qual foi muito esclarecedora possibilitando com que eu analise essa peça agora. A partir do meu entendimento em cima do que é o terror e piedade para Aristóteles e Suassuna, visualizo-o como uma característica com função educativa para a sociedade, no caso grega.

A platéia consegue experimentar toda a tragédia que Orestes passa expurgando assim suas paixões e desejos heróicos. Experimentando esse “como se” catártico, são libertos de realizar atos extremos em sua vida, ou seja, são educados conforme a sociedade deseja que os sejam.

Sabendo que um herói trágico sempre irá sofrer infortúnios, sem contar toda a tragédia que ele passa interna e externamente, por que iríamos querer ser como ele? Por qual razão alguém decidiria matar sua mãe e seu padrasto como vingança pelo assassínio de seu pai, sabendo que a culpa e a perseguição irão lhe seguir pelo resto da vida?



                 

                                    

           

     

























Considerações Finais



(...) O trágico decorre de uma ação humana elevada, narrada em linguagem poética, e na qual um personagem excepcional toma uma decisão, fazendo uma escolha entre dois fins, preferindo um e evitando outro. Dessa escolha, determinada por seu caráter – nem perfeito, nem perverso, mas sempre grande – surgem o conflito e seu esmagamento final.

                                   (SUASSUNA, p.132, 1977)



            Começar a conhecer um assunto novo pode ser assustador, mas depois de estarmos a par dessas características da tragédia e conseguindo relacioná-las analisando um texto dramático, podemos entender pelo menos a essência do trágico. Com essa base teórica, hoje consigo entender melhor a estética.      

            Sem duvida, algumas questões nos são levantadas, as quais alimentam toda uma vontade de pesquisas e vivencias: Qual o limite entre as divisões estéticas, sabendo dessas determinadas características? E como definir a contemporaneidade a partir dessas bases teóricas? 

            Assim entendo a compreensão da peça Coéforas como sendo um texto trágico e estou preparada para perceber qualquer outra peça com essas características. Assim construo minha ânsia pelos estudos e pelas vivencias artísticas. Assim deixo essa analise como uma parte de um espírito artístico em evolução dentro e fora de nós.



























Bibliografia



SUASSUNA, Ariano. Introdução a estética. 1977. Editora (não sei de qual livro estamos tirando os Xerox)

ARISTÒTELES. Arte Poética. (não possui ano).

SZONDI, Peter. Ensaio sobre o trágico. 2004. Editora Jorge ZAHAR.

NIETZSCHE, Friedrich. A origem da tragédia. 2005. Editora Madras.

ÉSQUILO. Coéforas. Trilogia Oréstia. 450 a.c.




P.S.: Por que a tragédia também nos alimenta.


    
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